quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Nunca mais...

Palavras de Dom Carlos Duarte Costa na revista Mensageiro de nossa Senhora Menina:

Em comemoração ao aniversário de organização jurídica da Igreja Católica Apostólica Brasileira – ICAB, gostaria de fazer memória do São Francisco de nosso tempo: Dom Carlos Duarte Costa. Homem corajoso, defensor do “cristianismo de Cristo”. 

A sua opção pelos pobres, e sua sede por justiça social causaram-lhe uma perseguição que o levara à prisão sob a acusação de ser “comunista”. Partilho com os leitores hoje, fragmentos escritos por Dom Carlos em sua revista Mensageiro de N.S Menina:

“Em 6 de julho de 1944, precisamente, um ano antes da minha excomunhão, a minha casa era cercada pelos beleguins de Serafim Braga, o português executor das ordens fascistas emanadas dos homens que dominaram a nossa terra, durante longos anos e tentam, ainda dominá-la. Fui preso às 6 horas da manhã, estive sentado no Gabinete de Serafim, o algoz de todos os “comunistas”, até depois do meio dia, ouvindo o Monsenhor Henrique Magalhães dizer: “até que enfim”, aos investigadores, prontos para o embarque (dom Carlos refere-se à prisão em Belo Horizonte), na sala de espera, cantavam “Alleluia, Alleluia” enquanto os Monsenhores Benedito Marinho e Henrique Magalhães riam-se, gozando. 

A ordem de prisão foi esta:

- O senhor é o bispo de Maura?

 – Sou, sim Senhor! 

– O governo ordena-lhe que siga para Morro Velho. 

– Então, o cidadão brasileiro não pode residir onde entende? 

– Não!  foi a resposta. 

– O senhor está detido. 

Acompanhado de um investigador, fui para minha casa, permanecendo, dentro e fora dela, investigadores da Polícia até o meu embarque para Belo Horizonte. Em Belo Horizonte, era eu aguardado pelo secretário de segurança pública e delegado de ordem politica e social, que me conduziram a chefatura de polícia. Em seguida fui fichado, como “comunista”. Terminado esse serviço eu disse: 

- Quem me mandou fichar como “comunista”, dentro da doutrina fascista, passou atestado de ignorante a si mesmo, porque quem prega os direitos iguais do homem, quem combate os males sociais e proclama a solidariedade humana, não pode ser “comunista”. "

Um ano após esse episódio aos 6 de julho de 1945 e há 76 anos atrás, precisamente às 10 horas da manhã em sua residência, Dom Carlos que até então era bispo titular de Maura, oficialmente se desligava da Igreja romana, para reorganizar o catolicismo no Brasil.



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